Vida Profissional



Ascael Equipamentos de Segurança


    Meu primeiro emprego foi na Ascael, empresa de equipamentos de segurança contra incêndio. Comecei a trabalhar em julho de 87, aos treze anos de idade. Eu estudava no período da tarde, e comecei a trabalhar na parte da manhã, das sete e meia ao meio-dia.

     A empresa ficava, digo, ainda fica, perto de minha casa. Comecei a trabalhar naquela pequena empresa, em companhia do Pedro, que cuidava da parte eletrônica, do Duda, que cuidava da parte de escritório, do Cecel, que estava na parte comercial, do Sr. Francisco Cirera, que trabalhava na parte eletrônica, e do Sr. Ademário, proprietário, que cuidava da parte técnica.

     Me recordo que a primeira coisa que comecei a fazer foi montar circuito eletrônico para sirene. De posse daquela plaquinha de circuito impresso com um tamanho aproximado de dois por três centímetros, passei a preenchê-la com diversos componentes eletrônicos, como CI, diodos, transistores, capacitores, resistores, etc.

     A empresa era pequena, e passei a me envolver em grande parte das atividades ligadas a produção que ali existiam, como montagem dos acionadores tipo quebra-vidro, caixas porta-chave, luminárias, arandelas e caixas para as centrais de incêndio.

     A princípio, eu trabalhava numa bancada, que ficava ao fundo, depois do escritório. Pela manhã, trabalhávamos ao som do programa A Hora do Ronco, da Rede Bandeirantes, programa aliás, que existe até hoje, passados mais de catorze anos.

     A empresa foi progredindo, e novos colegas se uniram a turma. Havia o Ubirajara, vulgo Bira, um gordinho, paraquedista, que era muito brincalhão, e grande alvo de chacotas e gozações. O Bira trabalhou um bom tempo na parte de produção, depois trabalho com vendas e saiu.

     Trabalhou também o Darlan, um moreno alto, brincalhão, natural do Piauí se não me engano, juntamente com o primo ou era irmão dele, o Noel. Creio que a melhor época, pelo menos se tratando de humor, foi quando trabalhavam eu, o Darlam, o Bira, o Cecel e o Noel. Era muita gozação o dia inteiro. 

     Cada um era pior que o outro quando se tratava de escolher algum da turma e satirizar todas as situações durante o dia. Acontecia muita molecagem, coisas do tipo como colocar estanho de solda no ferro de solda de alguºem e esperar o infeliz ligar o mesmo na tomada e ver o estouro acontecer.

     O Bira, era satirizado sempre, principalmente por não possuir namorada e estar sempre aos finais de semana indo para Boituva, cidade a cento e pouco quilômetros de São Paulo, para a área de paraquedismo, com um monte de caras.

     Passei a trabalhar também na parte de expedição e almoxarifado, mas sempre junto com restante do pessoal da produção. Sempre as nove da manhã, e as três da tarde, havia o intervalo do café. Eu, na época, comia as vezes três e até quatro pãezinhos no café. Sempre no aniversário de alguém, era dia do aniversariante comprar refrigerante e um pão doce que chamávamos de ªvanderléiaª ou ªlíngua de sograª.

     Muitos passaram por ali, o Moacir, que ia com sua moto e seu jeito malandro de ser; a Bartira, irmã do Bira, que sempre estava lendo alguma coisa, estudando, mesmo com sua grande dificuldade de ler devido a problemas que ela tinha na vista; a Silvia, a Nelinha e a Elaine que passaram pela recepção; o Marcos, cunhado do Francisco, metido a machão, e o filho do Francisco, cujo nome não me recordo mais, mas simpaticamente chamado de ªCocadaª, inspirado no personagem do Roni Cócegas, do programa A Praça é Nossa, devido a sempre ele estar trajado com uma camisa e gravata; o Kleber, que foi boy; Eduardo Quick, que foi da produção, e outros mais que não me recordo.


Noel


     Um dos meus hobbies lá era retratar alguma estória engraçada que acontecia com algum dos dali, podia ser uma estória acontecida ali dentro, ou fora dali, através de caricaturas, que eram espalhadas pelas paredes, gerando risos a todos os presentes.

     Trabalhei lá por cinco anos e meio. No último ano que trabalhei lá, estava cuidado da loja, que foi montada no andar de cima. Uma das minhas peripécias preferidas, era pegar essas caixas para mangueira de incêndio, que vinham recobertas com um papelão duro, e eram razoavelmente pesadas. Eu desembrulhava as caixas, pegava somente a embalagem, montava novamente no formato da caixa, e vinha carregando, fazendo aquela cara com expressão de peso, de cansaço, e quando chegava perto de alguém, fingia um tropeção ou uma queda e deixava a caixa cair para cima da pessoa. Era um barato ver as expressões que surgiam. Alguns tentavam pegar a caixa, outros tentavam fugir, outros paralisavam.

Confesso que não era sempre um trabalho muito confortável ou só fazendo artes. Eu recebia os materiais que chegavam a loja, organizava-os. Tinha muita coisa leve, mas também havia muito material pesado, como feixes de tubos galvanizados, com três metros de comprimento, diversas conexões galvanizadas, cujas roscas, ao ralar nos dedos, faziam cortes. 

     Não era só a dureza do trabalho que me desanimava, ao contrário, eu me sentia desanimado com aquele tipo de trabalho, mas não era somente pelo desconforto do trabalho, mas sim, por ter ingressado na faculdade, e passar a aspirar coisas novas, melhoras. Enquanto estava no colegial, estava confortavemente feliz, trabalhava, a noite ia para a escola, nos finais de semana saia com os colegas, andando de moto para vários lugares.

Flagrante na Nelinha no banheiro


     Mas assim que entrei na faculdade, não queria só aquilo, e durante o no fui cultivando aquele descontentamento, passei a procurar um novo emprego, e como no final de 92, não havia conseguido ainda, me demiti da empresa.