Diário de Bordo


Diário de Bordo 2001

2001 - 29 e 30 de setembro


     Esse meu final de semana foi muito legal.Viajei para Santa Rita do Jacutinga, Minas Gerais, para a festa de aniversário de setenta anos do pai da minha amiga Luciana. 

     Saí da agência por volta de seis e meia da tarde, um recorde de cedo se comparado aos dias normais. Como eu havia combinado com meu irmão me deixar na casa da Lídia, com quem eu iria viajar, passei primeiro no Ipiranga, para buscar a Lílian, namorada dele, que iria fazer companhia a ele, já que iríamos a Osasco buscar a Andréa e depois ele iria me deixar na região da Avenida Paulista. 

     Após buscar a Lílian, passei em casa, peguei minha mala, quer dizer, mochila, jantei um peixinho e seguimos para Osasco. Foi uma beleza, atravessar aa cidade em plena sexta-feira, no horário do rush, mas tudo bem. Chegamos em Osasco, pegamos a Andréa, paramos em frente ao Shopping Continental, para comprarmos uma caixa de bombons, com a qual presenteamos o Sr. Isaías, o aniversariante.

     Compramos uma Coristina, já que eu estava tossindo e com a cabeça doendo ao tossir. Saímos de lá e fomos até o apartamento da Lídia. Lá, encontramos com o Rogério, namorado dela, juntamos as bagagens e pegamos a estrada, já dez e pouco da noite.

     Seguimos pela Rodovia Airton Senna, até o primeiro posto para aquela paradinha básica para abastecer o estomago. Pegamos uns salgadinhos básicos, tipo batata frita, m&m, amendoin japonês, coca, água, chiclete, coisinha básica. Além é claro, daquele cafezinho, iogurtinho, misto-quente. De lá, já pelas onze da noite, pegamos a estrada. Fui guiando, na boa, até a cidade de Volta Redonda, no Rio, quando entramos sentido cidade de Valença. 

     A noite estava nublada, tranqüila. Fomos seguindo o mapa, que tinha uma orientação errada. Havia uma bifurcação em que precisávamos entrar a direita, e seguimos a esquerda, sentido cidade Conservatória. Só percebemos o erro ao chegar na cidade, pois tínhamos que encontrar uma rodoviária e virar a esquerda. Entramos na cidade de Conservatória, nome esse devido a grande quantidade de pousadas com ceresteiros. 

     Ao chegarmos na cidade, encontramos uma rodoviária pequena, ao lado de uma locomotiva antiga, iluminada, usada como decoração da praça da cidade. Como não achamos a esquerda que precisávamos, fomos perguntar e informaram que precisávamos voltar vinte e poucos quilômetros. Tudo bem! A estrada era excelente, apesar de muito sinuosa, de trechos com serração intensa, havia muitos sinalizadores no chão, e as faixas estavam novas e visíveis. Voltamos tudo e pegamos sentido cidade de Valença.

     Entramos pela cidade e fomos seguindo sentido Parapeuna agora. Ao começarmos a sair da cidade, o asfalto acabou. A Lídia, que já havia ido outra vez para lá, estranhou e disse que o caminho estava errado. Ainda seguimos um trecho de terra, perguntamos para duas senhoras que estavam fazendo Cooper na beira da estrada, em plena seis da manhã, e elas falaram que podia ir em frente sempre. 

     Ainda seguimos um pouco, mas como não batia o que havia na estrada com o mapa, pois no mapa, a estrada de terra era mais distante, daí voltamos de novo para a cidade. Paramos um ciclista e perguntamos se aquela direção era sentido Rio Preto. Ele disse que sim, perguntamos a distância, ele disse tinha "uma banda de chão até lá", ajudou muito né? 

     Como ainda tínhamos dúvida, voltamos, perguntamos para um rapaz que estava num ponto, que esclareceu a prefeitura havia tirado o asfalto todo da estrada para refazer, e que a direção que iríamos era a dele. Falamos que iríamos abastecer e que voltaríamos e daríamos uma carona para ele. Voltamos mais um pouco até o posto, e abastecido o carro, pegamos novamente, aquela direção. 

     Pegamos o carinha, para dar carona e seguimos pela estrada de terra. Mas tiraram todo o asfalto mesmo, não sobrou nem vestígio de asfalto, virou estrada de terra mesmo. Certos do caminho, seguimos sentido Pentagna, até chegarmos em Rio Preto. Ainda teve uma caminhada, aquela "banda de chão" que o ciclista falou, deu 28 quilômetros. Enfim, fomos nos aproximando da fazenda São Bento, nosso destino. Essa fazenda fica ao lado da fazenda Santa Clara, onde foram feitas as filmagens da Novela Terra Nostra.

     De longe, a casa sede da fazenda Santa Clara parece até um quartel, branca, imponente, gigante. Mas, ao atravessarmos a pequena ponte, em que só atravessa um veículo por vez, e nos aproximarmos, vemos como está abandonada, decadente. Contam que existe muita energia negativa lá, muitas marcas de sangue de escravos ainda pelas paredes. 

     O lugar parece sentenciado a desolação. Passando por ela, seguimos mais alguns quilômetros e avistamos aí sim, a Fazenda São Bento. Chegamos já eram sete da manhã. Eu não agüentava mais dirigir. Chegamos, descarregamos a mala, e fomos tomar café, já que já estavam servindo. Comemos uns pães deliciosos, com manteiga caseira, um café bem forte.

     Daí, fomos nos alojar num quarto na casa grande. Bem legal. A casa tem o teto bem alto. O quarto que ficamos, tinha uma porta que abria em duas partes, e duas janelas enormes. Provavelmente ali fora algum escritório no passado, já que a porta dava para a sala. O piso, antigo, mostrava ter sofrido ação de cupins, mas não foi destruído. No fundo do quarto, um armário enorme, de madeira escura. 

     Dois criado-mudos, um de cada lado da cama, esta também de madeira. Mal entramos no quarto, e desmaiamos até por volta de meio-dia. Saímos e logo fomos recepcionados pela Luciana, filha do seu Isaias, o aniversariante, que nos mostrou um pouco da casa, os quadros dos antepassados da família dela, o imenso quadro com a árvore genealógica da família dela, com sei lá quantos tatatataravós, muito legal. 

     Após uma breve olhada, fomos tomar um banho, gelado para a minha sorte! Entrei com muita coragem naquela água que congelava. Até então, eu ainda estava meio sonolento. Aquele água fria me despertou. Em seguida, fomos dar uma volta. Até então, estávamos na casa grande e não víamos muita movimento. Encontramos o seu Isaias, demos a lembrancinha dele, e seguimos com ele até que a cada ao lado, onde existe o bar do Cascatinha, apelidado assim devido a semelhança ao personagem. Havia um enorme movimento, uma galera enorme bebendo e conversando.

     Nem deu tempo de tomarmos uma cervejinha lá, e o pessoal começou a subir para a varanda da casa grande, onde seria servido o almoço, algo bem leve, feijoada. Subimos e ficamos com o pessoal, que se espalhou pela varanda da casa e pelo jardim, beliscando umas coisinhas, tomando uma cervejinha, caipirinha.

     Ficamos batendo papo com a Lídia e o Rogério na mesa. Logo chegou a Luciana, e em seguida passamos a nos servir daquela saborosa feijoada. Os pratos para nos servirmos estavam arrumados na varanda da casa. Eu, como de costume, fiz um pratinho bem light, bem pequeno, desses que parecem esses caminhões de areia carregados que trafegam pelas ruas, cheio até a tampa e vazando. Comi bem, e como a Luciana foi fazer um complemento, eu, como bom cavalheiro, para não deixa-la ir só, fiz o sacrifício de fazer-lhe companhia e fiz novamente um novo pratinho. Estava delicioso, paio, couve, liguiçinha. Só provando mesmo. 

     Em seguida tinham diversas sobremesas: doce de leite, doce de abacaxi, doce de framboesa, doce de sei lá mais o que, doce de nem lembro o que mais. Sei que fui no doce de leite, e pra completar, uma pequena xícara de café.

     Logo depois, houve a celebração de uma missa, dentro da casa grande. Um dos cômodos, que originalmente era um local de celebração, foi mantido para tal fim. Realizou-se a celebração com um ministro da eucaristia, em seguida cantamos um parabéns ao seu Isaias, e por fim, já quase seis da tarde, resolvi com a Andréa, e creio que boa parte do pessoal, tirar um pequeno cochilo para aguentarmos a festa que haveria a noite. 

     Que cochilo. Deitamos e quando acordei, já estava escuro. Levantei assustado pensando que já fosse tarde ou de madrugada  e tivéssemos perdido a festa que iria acontecer a noite. Por sorte ainda não eram 22 horas e fomos nos trocar para ir ao baile. 

     Ao lado da casa, existe um salão grande, com um palco, onde houve a apresentação de uma cantora, amiga do pessoal da família, e de um DJ. Antes da festa começar, foi servido um jantar, agora com massa e vinho. Eu nem ia jantar, pois ainda estava andando cansado da feijoada, mas como a Andréa havia almoçado pouco, resolvi fazer-lhe companhia comum prato de macarrão.

     Depois teve o cantar do parabéns para o seu Isaias. Ai, pegaram os aniversariantes do mês, começaram a chamar, inclusive eu, juntamos em volta do bolinho e cantamos mais um parabéns junto com seu Isaias. Logo em seguida a música começou e ficamos na agitação, dançando bastante até quase duas da manhã. Quando deu esse horário, nos retiramos e fomos deitar, pois além de cansados, planejávamos levantar cedo no dia seguinte para poder conhecer os arredores da fazenda e a cachoeira.

     Levantamos cedo, antes das nove da manhã, tomamos um cafezinho*. 

* Cafezinho= café, leite, suco, pãozinho caseiro, bolo, manteiguinha caseira, queijo caseiro, mamãozinho e suco de laranja.

     Daí, saímos a caminhar, eu e a Andréa, em direção a cachoeira, que fica a cerca de 1,5 km dali da casa. Fomos seguindo pela estrada, por onde há algumas casas e chalés, dos integrantes da família proprietários da fazenda. 

     O caminho é largo, dá para ir de carro até quase a margem do rio que se forma ao final da cachoeira, onde há duas pontes, uma, estreita, bamba, onde só dá para pisar um pé atrás do outro, que segue para uma gruta.

     A outra, mais larga, com várias tábuas, mas não larga o suficiente para passar um automóvel,  dá acesso a cachoeira. Chegamos, sentamos, e ficamos curtindo o som da água, que estava geladérrima por sinal. Chegou um cara, que ficou arriscando pescar alguma coisa, em meio a parte rasa da água, bem ao fim das pedras que compõem os degraus da queda d'água. Insistiu umas três, quatro vezes, e meio que impaciente, desistiu e seguiu o curso da água, creio eu buscando algum lugar melhor.

     Resolvemos voltar e seguir pelo outro caminho. A Andréa protelou em seguir pelo caminho estreito que havia após a pontinha estreita, quero dizer, pela tábua que servia de ponte. Optamos então voltar e subir a rampa que ia dar acesso a outro local. Era uma rampa que saia do caminho que estávamos, larga, mas com o mato crescendo, onde seguia uma trilha, que ia se estreitando lentamente pela subida. 

     Fomos caminhando, e ainda insisti para que a Andréa seguisse. Ela ainda tentou, mas a determinada altura da rampa, percebi que sua respiração se tornara ofegante, demonstrando medo, pois a trilha se afunilara e o mato começava a roçar em nossas pernas. Vendo que ela não resistiria muito tempo, já que ela tem fobia de caminhar por mato, barro e afinidades, resolvi voltar. 

     Caminhamos e atravessamos a fazenda até o outro lado, na parte da entrada, onde há uma bifurcação que abre caminho aos estábulos e a uma estrada onde há chalés. De lá, voltamos para a casa grande, fomos dar uma "dormidinha" e depois, seguimos para o bar, onde ficamos batendo papo até dar a hora do almoço!

    Pegamos uma cokinha pra acompanhar o almoço e subimos para a casa grande, onde fomos comer mais um pouquinho, pois íamos pegar a estrada de volta as duas e pouco da tarde. Fomos para a fila da cozinha, fizemos um pratinho, e para minha alegria, nos sentamos numa mesa onde vieram almoçar conosco o seu Isaias, a esposa dele, a D. Vera, um amor de pessoa também, além da Luciana, filha deles, e da Lídia e do Rogério.

     Foi aquela via sacra de novo. Comidinha, docinho, cafezinho! Infelizmente, após comer, era hora de acertar as contas do bar, do quarto e terminar de ajeitar as malas. Arrumamos tudo, nos despedimos de quem conseguimos encontrar e pegamos a estrada novamente. Dessa vez, o Rogério voltou dirigindo, e eu pude vir atrás, sossegado, prestando atenção nos detalhes do caminho, comendo batata frita, tomando água, amendoim japonês e M&M. 

     Só paramos quando chegamos em Volta Redonda, onde paramos num posto de combustível pra tomar um cafezinho e ir ao banheiro. Sabe, esses banheiros de estrada de posto dão um gosto de ir! Os que existem nessas padarias grandes ainda são bons, mas geralmente, o resto, tem que precisar mesmo.

     Resolvi comprar um guaranázinho, que por azar esqueci sobre o balcão. O jeito foi agüentar com o restinho que tinha de água até chegarmos num Bob's que tem já perto da cidade de Resende. Tomei uma milk-shake e comi uma batatinha, só! Daí, já estávamos na reta final do caminho. 

     Estávamos cansados de ouvir as mesmas fitas que haviam no carro, e passamos a procurar alguma emissora de rádio. Como não encontrávamos, começamos a cantar. O repertório tava eclético, tinha sertanejo, Roberto Carlos, MPB. Até internacional saiu, sabem aquela do De Kirl? A famosa. Começa assim: De Kirl me adianta, viver na cidade, se a felicidade não me acompanhar... . 

     Fomos passando o tempo até chegarmos a São Paulo, terra da fumaça! Eu e a Andréa ficamos no metrô. De onde seguimos, para minha casa. Eu ia andando até meio torto, com mochila nas costas, mochila de lado, sacola na mão, mas deu para ir na boa.

     Chegamos em casa, descansamos um pouco, tomei um banho e fui levar a Andréa pra casa, onde resolvi dormir, pois já era bem tarde!