Meu
começo de ano foi legal. Passei o Reveilon no Guarujá. Choveu muito mas
foi legal.
De repente, vi que a rua estava com muita
água, e os carros passavam jorrando água. De imediato, desci, por volta
de sete horas da noite, para tirar o carro de lá. Não consegui um guarda
chuva, então, deixei documentos, agenda e papéis na portaria e fui só
com a chave, correndo, em meio a tempestade.
Chegando ao carro, a água já me cobria os
calcanhares e dento do carro, a água já dentro, cobria os pedais e
inundava o assoalho. Meu carro tinha um alarme que bloqueava a gasolina e
travava as portas. Quando cheguei, o controle havia molhado, e não quis
funcionar.
Fiquei insistindo, ali mesmo em meio a
chuva, e nada de o sensor abrir as portas. Fiquei no posto de combustível
que havia em frente, tentando, tentando e não conseguia. Fiquei ali, sem conseguir fazer nada, pois
meu carro estava estacionado entre dois outros, que também começavam a
ser inundados.
Fiquei observando a água subir rapidamente
acompanhando o nível na lateral do carro. Até que percebi a traseira do
carro ser erguida. Preocupado, vi que poderia então, arrastar o carro
dali, no braço, e o fiz. Abri o carro, arranquei o rádio amador
rapidamente que ficava embaixo, coloquei no painel, e vi meu toca-fitas
ficar submerso, já que a água entrou muito rápido dentro do carro.
Desengatei, soltei o freio e vim para fora,
em meio a chuva, e comecei a arrastar o carro, sozinho, sob os olhos de
diversas pessoas que estavam no posto em frente, que ficava num nível
mais alto, carros que estavam parados antes do trecho inundado e pessoas
na concessionária Honda que há do outro lado.
Na concessionária, a movimentação também
era grande. Ela possuiu uma garagem no piso inferior, com a rampa que da
acesso pela avenida Ibirapuera, e a garagem começou a alagar, enquanto
que os motoristas saiam afoitos com os carros pela rampa, saindo pela calçada
na contramão. Arrastei meu carro até o meio da rua, e
comecei a tentar trazê-lo para a parte mais alta da rua, mas a correnteza
estava contra meu favor, e não conseguia empurra-lo.
A água subiu até quase nos vidros,
chegando a quase cobrir o capô. Depois que tirei o carro da calçada,
fiquei observando do posto em frente, até que comecei a ver os outros veículos,
que estavam com as traseiras erguidas, boiarem pela rua, de um lado para
outro, e vindo de encontro ao meu.
Voltei para a rua, com a água na cintura,
e comecei a arrastar um Gol, um Palio e uma Parati que boiavam, ameaçando
bater no meu carro e entre eles, tudo isso sob a chuva forte. Ia pegando
os carros pela traseira levantada, e ia arrastando até ficarem distantes
uns dos outros.
Esse posto, fica de esquina com a avenida
Ibirapuera, e também estava alagado. O nível dele é mais alto que o da
rua, mas mesmo assim, diversas pessoas ficaram ilhadas nele, com a água
quase invadindo o interior.
Quem estava no posto não tinha como sair,
pois tanto do lado da rua como do lado da avenida, que são mais baixos,
estavam alagados.
Pedi o telefone de um dos que estavam
presos no posto, para ligar para o guincho do seguro, pois sabia que o
carro não sairia dali com as próprias rodas naquela noite, mas os
telefones não funcionavam. Só conseguiu ligar, indo ao orelhão próximo.
Enquanto aguardava, apareceu o dono de um
dos outros carros que estavam boiando, um jovem, dono da Parati, que havia
estacionado ali e ido na casa da namorada, na mesma rua. Ajudei-o a arrastar o carro para o posto, e
ele ajudou-me a arrastar o meu para a parte menos alagada, na rampa de
acesso ao posto, onde ali, já sem chuva, comecei a tirar a água empoçada
no interior do uninho.
A água baixou rápido, sendo que por volta
de nove e meia da noite, só haviam poças. Começaram a aparecer os donos
de outros veículos, como o dono do Gol que eu arrastei, que acabou
ficando atravessado no meio da rua quando a água baixou. Quase dez horas, chegou o guincho, que
pegou meu carro e trouxe para minha casa. Coloquei-o na garagem e comecei
a tirar o restante da água, arranquei o banco traseiro, tirei os bancos,
levantei o carpete e comecei a secar a água que estava no assoalho.
Depois de deixar tudo aberto, escancarado
na garagem, fui tomar um banho, comer e dormir. Cedo, fui buscar um mecânico
que trabalha em minha rua e vim com ele mostrar o que havia acontecido.
Ele verificou o módulo de injeção, que
fica embaixo do porta-luvas, as velas, a caixa de fusíveis. Passou
bastante WD e pediu para eu ligar. Após algumas tentativas, o carro
ligou, com a graça de Deus.
O mecânico disse que foi um milagre, pois
tudo havia ficado submerso e estava funcionando aparentemente normal.
Coloquei os bancos da frente e vim trabalhar. Deixei o carro num lava-rápido, onde
mandei lavar e trocar os feltros que ficam sob o carpete. Dois dias
depois, eu estava com o velhinho guerreiro de volta na estrada.
No dia 23, a srta. Sandra da Boate Live, entrou em contato telefônico
comigo, informando que eu estava convidado a ir a boate, pedindo que eu
fornecesse meu nome para ser colocado na lista de convidados. Coloquei meu
nome, de meu irmão e mais dois amigos, me esclarecendo somente que deveríamos
chegar antes da meia-noite a casa, que teria entrada vip, pagando somente
o que fosse consumido.
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